A importância do contato com a natureza na primeira infância, para a formação de crianças curiosas
A infância é um período de descobertas em que tudo pode ser investigado e compreendido. As crianças observam o mundo à sua volta e, a partir de suas próprias experiências, percebem a existência das coisas, dos seres e dos acontecimentos. Buscam entender suas lógicas e funcionamentos, bem como experimentam relacionar-se com eles.
Um simples grão de areia pode despertar o desejo genuíno por conhecimento próprio da primeira infância. A curiosidade é o principal motor dessas descobertas, por meio da qual a observação se transforma em interesse, e o interesse se torna vontade de aprender.
No entanto, por mais espontâneo que seja esse desejo, o interesse curioso precisa ser nutrido e estimulado. Quanto mais instigadas forem as crianças, mais elas continuarão ávidas por investigar e descobrir. E é aqui que a escola exerce um papel fundamental, proporcionando situações que provoquem os sentidos e colaborem para o desdobramento das aprendizagens que dão base ao desenvolvimento infantil.
Ainda que caiba às famílias desempenhar essa função em casa, é na escola que essas vivências podem acontecer de forma mais planejada, contando com o acompanhamento e olhar atento das professoras e professores, profissionais preparados para propor, problematizar e intervir quando necessário. Nesse contexto, as crianças são constantemente convidadas a interagir, tanto com os seus pares quanto com o espaço no qual estão inseridas.
É por isso que desde o início de sua trajetória, há 51 anos, além da qualidade da formação do corpo docente, uma das maiores preocupações da Escola Parque sempre foi oferecer aos alunos e alunas um ambiente rico e diverso, capaz de fomentar a curiosidade das crianças, em especial durante a Educação Infantil. Sendo o ambiente um agente educador, é preciso que cada cantinho seja pensado e que as propostas de intervenção no espaço possuam intenção pedagógica.
Não à toa, a escolha da localização das unidades foi tão cuidadosa: na Gávea, a Escola é abraçada pela Floresta da Tijuca, uma das maiores florestas urbanas do mundo; e, na Barra, a reconstituição da restinga local é um dos grandes objetivos da comunidade escolar.
O contato privilegiado com a natureza não é por acaso, mas sim algo buscado e construído pela Escola Parque, uma escola construtivista no Rio de Janeiro. Isso porque, ao conviver com ela, as crianças experienciam uma série de fenômenos, ciclos e transformações que as levam a elaborar perguntas que, por sua vez, norteiam investigações.
Por que hoje o rio está mais cheio que ontem? De que as minhocas se alimentam? O que faz a terra molhada ter um cheiro diferente da terra seca? Por que as folhas caem mais em um mês do que no outro? Onde as formigas dormem?
O encontro com esses questionamentos, possibilitados pelas áreas externas da Escola, é o que motiva os alunos e alunas a explorarem ainda mais o ambiente, levantarem hipóteses e testarem teorias. Com a ajuda dos adultos, eles constroem seus conhecimentos e desenvolvem projetos relacionados às questões elaboradas em conjunto com os colegas.
Ao observarem e se relacionarem diariamente com o Rio Rainha na unidade da Gávea, por exemplo, os alunos e alunas não enxergam apenas um rio, mas sim o rio em seu contexto, em sua relação com as pedras, com as plantas, os animais e as pessoas. Esses afetos criam memórias, que marcam os aprendizados do corpo e apoiam a construção de conhecimentos coletivos por meio da interação entre as crianças e o ambiente.
A possibilidade de estar em um espaço fortemente marcado pela presença da natureza que, assim como as próprias crianças, está o tempo inteiro se transformando, faz com que os questionamentos permaneçam vivos, pulsantes, criando condições para a capacidade inventiva de cada uma das crianças e de seus grupos. Aos poucos, as perguntas vão ficando cada vez mais complexas, tal qual o raciocínio por detrás delas.
Inspirados pelos ciclos das plantas, dos animais e das chuvas, os pequenos vão construindo raciocínios investigativos que, mais tarde, darão sustentação para o desenvolvimento do pensamento crítico e científico. Inaugurada na Educação Infantil, quando o encantamento com a natureza e seus eventos é mais intenso, a curiosidade continua sendo fomentada ao longo dos demais segmentos escolares, partindo sempre da experiência, dentro e fora da escola (como nos Trabalhos de Campo).
Além do olhar fascinado, o sentimento de pertencimento à natureza também é maior na primeira infância. É importante aproveitá-lo e alimentá-lo, de modo que todos se percebam como parte da ecologia, responsabilizando-se pelos cuidados comuns ao meio ambiente. Dessa maneira, educamos crianças para um mundo mais sustentável onde os conhecimentos são situados e articulados, estabelecendo conexões entre o inteligível e o sensível, o racional e o emocional, as ciências, as artes e a tecnologia.
Mas como é possível conduzir intencionalmente esse tipo de experiência no espaço? Como as propostas de interação com o ambiente se tornam ferramentas pedagógicas? O que é feito na escola que pode ser também vivenciado pelas famílias?
Essas são algumas perguntas que discutiremos com a Profª. Melina Furman, especialista no papel da curiosidade e da criatividade para o desenvolvimento da criança, na próxima terça-feira, dia 17/08, às 19h. O encontro faz parte do ciclo de palestras “Onde tudo começa? – A escola e a família no centro do desenvolvimento das crianças”, organizado pela Bahema Educação e pelo Centro de Formação da Vila.
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