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CONCORDAR COM DISCORDAR

Por Escola Parque

Artigo por Patrícia Lins e Silva (“CONCORDAR COM DISCORDAR. Os jovens precisam aprender que é fundamental conseguir debater com foco nas ideias.")
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COMO ENSINAR AOS JOVENS A DEBATER COM FOCO NAS IDEIAS.

Patrícia Lins e Silva nos traz em seu novo artigo uma reflexão sobre o indesejável crescimento da polarização, em que umas ideias tentam sobrepujar outras. Ela lembra que “uma cultura de debate respeitoso implica incentivar a exposição de opiniões coerentes, de reconhecimento de pontos de vista divergentes.”

Como ela mesma nos conta: “Faz pouco tempo que li uma reportagem sobre uma campanha política para governador de um estado norte-americano, com a notícia de dois candidatos adversários que criaram um vídeo juntos no qual declaravam "podemos debater sem nos insultar". Uma atitude alentadora diante da tendência atual de debates políticos em que a discordância provoca acusações rasteiras sem fundamentação, com o mero objetivo de desclassificar o outro.”

Patrícia acredita que essa cultura de discussão cortês e civilizada deve ser promovida na escola. E que os educadores podem criar debates em sala de aula, mostrando a necessidade de respeito, onde os alunos podem desenvolver o hábito de defender suas ideias, mas também ouvir os argumentos contrários, aprendendo assim a construir um pensamento baseado na troca de pontos de vista. “Na escola, diz ela, aprende-se que xingar e desclassificar quem tem opiniões diferentes não ajuda a avançar nas ideias.” Aliás, ela ressalta que esse comportamento anda tão infiltrado na cultura que se tornou uma ameaça à democracia.

E ela exemplifica: “Quando as crianças assistem a um debate político em que os candidatos se interrompem no meio da fala, ou dizem para o outro calar a boca, podem pensar que essa é a forma de debater ou discordar.” Patrícia lembra que aprender a escutar sem interromper o outro e a responder sem recorrer a insultos é importante para construir uma cultura democrática: “A escola é o lugar para cultivar gerações que sabem expressar-se, que têm opiniões e argumentos e a utilização de forma competente e com base no respeito mútuo.”

Como ela aponta, uma cultura de debate respeitoso deve incentivar a exposição de opiniões coerentes, de reconhecimento de pontos de vista divergentes. Para Patrícia Lins, vale até discordar do professor. “O que importa, ela nos diz, é criar a postura cortês, com respeito aos discursos discordantes, mesmo que com firmeza nas respostas.”

Ela considera muito importante desenvolver a habilidade de escutar o outro muito atentamente para responder de modo lógico. E afirma que, quando se aprende a ouvir, sem julgamento ou imediato interrupção, pode-se pensar sobre os próprios argumentos.

Patrícia sugere uma forma de conversar com os alunos, sobre os benefícios de uma discussão, mutuamente, respeitosa: a célebre parábola dos cegos e do elefante. Ela conta: “Certo dia, um príncipe indiano chamou um grupo de cegos de nascença para virem ao pátio do palácio. Mandou também trazer um elefante. Levou os cegos até o elefante, posicionou-os ao redor do animal e pediu que o tateassem. Um estava na barriga, outro na cauda, outro na orelha, outro na tromba, outro numa perna.” E ela prossegue explicando que, na parábola, cada um dos cegos tinha uma opinião diferente sobre o que era um elefante. Por isso, cada um deles defendia uma percepção diferente do animal. E que o príncipe usou a experiência para mostrar a eles a importância de juntar experiências, entender como cada opinião pode se encaixar em outra é a única forma de realmente conhecer a verdade das coisas.

Patrícia vai adiante: “A sensatez passa por levar em conta as experiências dos outros para não cismar com uma visão unilateral e parcial das coisas.”

Patrícia pontua que, para se obter uma visão mais integral de qualquer fenômeno, é preciso reunir os numerosos aspectos que podem ser observados. E que tudo pode ser bastante complexo e ter muitas facetas. Por isso, concentrar a atenção em uma única delas faz com que ignoremos o resto, repetindo os cegos da parábola.

Ela comenta que, diante da atual dificuldade de escutar ideias dos outros, os jovens precisam aprender que é fundamental conseguir debater com foco nas ideias. E arremata com um pensamento: “Como ideias nos fazem humanos e, com elas, podemos construir um mundo em que cada um pensa como quer, mas temos todos os objetivos de assegurar a cultura, o conhecimento e a civilização.”

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