O escritor uruguaio Eduardo Galeano conta, num texto primoroso, sobre um menino que nunca tinha visto o mar. O pai do menino, então, decide levá-lo. Era longe, subiram e desceram, e subiram novamente e, finalmente, no cimo de uma duna alta, despontou o oceano, banhado em luz, com toda a sua grandeza. O menino, impactado, ficou paralisado e mudo. Passado um tempo, conseguiu dizer com voz embargada: – Pai, me ajuda a ver.
É uma historinha emocionante, com grandes lições para quem cuida de crianças. Acontece muito de não chegarmos a perceber quando as crianças precisam de ajuda para ver o mundo. Ou quando não precisam…
Na maioria das vezes, as crianças organizam bem suas brincadeiras e suas experiências. Mas há momentos em que parecem sem direção, sem saber por onde começar, ou porque há muito estímulo ao mesmo tempo, ou porque não conseguem se concentrar. É comum, nas praças ou na praia, vermos meninos e meninas saindo de um lugar para outro, sem conseguir se dedicar a alguma atividade. Se prestarmos atenção, observamos que não percebem o que há para ser explorado. Uma pequena sugestão pode ajudar. Pode ser propor contar os grãos de areia dentro de uma forminha de areia, por mais que isso possa parecer despropositado. Mas fazer bolinhos de areia pode ser tarefa muito conhecida que não tem mais muito apelo desafiador. Em geral, as crianças se aproveitam de uma sugestão e partem para outras ideias, delas próprias. A sugestão serve apenas para propor um foco de ação. Contar quantos copinhos de água cabem no baldinho é mais divertido do que ficar empurrando a mãe e pedindo biscoito e sorvete sem conseguir se distrair com alguma atividade que lhe pareça interessante.
Também somos capazes de atrapalhar a concentração das crianças, interferindo numa brincadeira que ela construiu e em que está envolvida. Desafiar a criança não é propor uma outra brincadeira em que seremos os líderes. Nada de “melhorar” a brincadeira ou de “animar” a brincadeira das crianças. Em geral, a interferência adulta acaba por determinar o fim da atividade, porque a criança “cede” o espaço ao adulto.
Hoje em dia, com a quantidade de estímulos que todos temos, a concentração está se tornando difícil. Apoiar a atenção da criança para o seu entorno, recorrendo a focos de atenção, ajuda-a a descobrir relações entre os fenômenos. Incentivar a concentração e a persistência nas brincadeiras e tentativas de vencer obstáculos faz parte de ajudá-la a ver o mundo.