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Senhores de um mundo novo?

Por Patrícia Lins e Silva

O famoso livro O Senhor das Moscas conta a história de garotos numa ilha deserta, sem supervisão de adultos e traz uma boa reflexão para os dias de hoje.

Crianças e jovens ingleses sobrevivem à queda de um avião em que estavam sendo evacuados, na segunda Guerra Mundial. Caem numa ilha deserta, sozinhos e sem adultos.

Assim começa a história do famoso livro escrito em 1954 por William Golding, ‘O Senhor das Moscas’, que encontrei ao arrumar uma estante de casa. Lembrei-me do quanto a história continua atual porque, através do que acontece com os meninos na ilha, trata do tema universal da natureza humana.

Na continuação da história, o grupo elege um líder, rivalidades afloram, e se inicia uma disputa pelo poder que resulta numa escalada de violência que provoca a morte de três meninos. Durante uma batalha os garotos ateiam fogo à floresta da ilha, o que chama a atenção de um navio britânico, que se aproxima para investigar. O bando é encontrado e impressiona pelo seu estado de selvageria.

O Senhor das Moscas reflete sobre valores e sobre as complexidades do humano. Os personagens principais são emblemáticos de duas abordagens diferentes quanto à organização da sociedade, o que gera hostilidade mútua e agressividade crescente. Enquanto um dos líderes acredita na persuasão como motivação natural para que os garotos trabalhem em equipe, o outro usa a dominação imperativa e oprime quem o desobedece. De um lado estão a lei, o dever, a razão e a proteção dos fracos, e do outro ficam a crueldade, o arbítrio, o medo e a tirania. Quando a violência se manifesta, os impulsos mais brutais afloram e a civilização não consegue conte-los porque, na tese do autor, é inerentemente frágil.

A sensação de universalidade e pressentimento de inevitabilidade que William Golding cria no livro revela sua visão pouco otimista da espécie humana. Deixados sem supervisão, os meninos regridem ao estado de barbarismo, que só se resolve quando chega um adulto que recupera a civilização. Os meninos partem da ilha assombrados pela lembrança dos horrores que sofreram e infligiram.

Os adolescentes costumam gostar da leitura de O Senhor das Moscas que faz refletir sobre princípios fundamentais e moralidade. No atual tempo de incertezas, é bom pensar sobre o mundo que vai se constituir depois do confinamento e como a espécie humana pode agir para torna-lo menos desigual, mais justo, mais habitável e equilibrado.

Artigo de Patrícia Lins e Silva, Diretora Pedagógica da Escola Parque, publicado na Veja Rio.

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