Nosso itinerário
Desde o ano 2000, quando se iniciou uma nova coordenação do Ensino Médio na Escola Parque, um novo modelo tem se construído no intuito de não ficarmos reféns dos contornos pedagógicos impostos pelos programas das provas de acesso ao vestibular. Cuidamos dos processos que preparam os nossos estudantes para ingressarem nas universidades e cursos que desejam, bem como nos desafiamos a implantar ações que assegurem a ampliação cultural, científica e cidadã, num ambiente moral e ético. É um modelo voltado para a formação humana, entendendo a cultura como matriz dessa formação, associado a uma formação voltada para resultados.
As inovações criadas no campo curricular, como a criação de Projetos Empreendimentos, Ciência e Arte, Saber Mais, Educar para a Sustentabilidade, dentre outros, ocorreram num ambiente inquieto e acolhedor onde os estudantes também foram protagonistas num conjunto de ações como:
Vestibular comunitário (Pecep e Acep); Modelo diplomático da Escola Parque (MODEP); Grupo ambiental da Escola Parque(GAEP); Coletivo Feminista e Jovens pelo Clima.
Nesse contexto, o Ensino Médio foi se formando e reformando com a intenção de tornar possível a superação da dicotomia presente para esse nível de ensino: a preparação x a formação. Ao longo dos anos, criamos espaços de reflexão e ação pedagógica que ampliam os horizontes acadêmicos dos nossos estudantes. Uma das estratégias criadas para a promoção do diálogo, entre as áreas de Ciências Naturais, Ciências Humanas e Linguagens, foi a criação da disciplina Ciência e Arte em 2005, para as turmas de 1° e 2º anos do Ensino Médio. A proposta, construída com todo o corpo docente, conferiu a ela um caráter transdisciplinar, e a sua implantação, que ocorreu em 2006, nos possibilitou abordar o uso de linguagens, como teatro, fotografia, grafite, cinema, animação, robótica, literatura e pintura nas discussões de conceitos e temas científicos, valorando e reconhecendo o papel da imaginação na criação e divulgação científica, contrapondo-se à imagem de uma ciência árida, neutra e asséptica, tão disseminada na maioria dos livros didáticos e em nossas práticas escolares.
A relevância da ciência na cultura contemporânea ocorre pela sua presença cada vez maior em amplos setores da produção, na organização da sociedade e em nosso dia a dia, nos desafiando a formar cidadãos que sejam capazes de compreender, por exemplo, o funcionamento de um forno de micro-ondas, de computadores, bem como conhecer e discutir questões que são cruciais para a humanidade, como mudanças climáticas, pesquisas e terapias com células-tronco, novas fontes de energia, entre outros temas contemporâneos.
Conceito dos Projetos Colaborativos
Em 2019, os cursos de Ciência e Arte sofreram uma grande reformulação e passaram a se chamar de Projetos Colaborativos. As oficinas foram pensadas para que pudéssemos oferecer aos estudantes o contato com diferentes campos de atuação profissional futura. Atuação esta que esperamos esteja voltada para uma participação consciente e transformadora do mundo, na medida em que as oficinas estão focadas na cooperação, na criatividade e na responsabilidade socioambiental. Sendo assim, espera-se que, ao final de cada ciclo, os estudantes possam ter se apropriado de saberes significativos para poder intervir em suas realidades com a intenção de transformação social.
Os projetos em questão buscam construir práticas pedagógicas que se ancoram na solução de problemas reais, conforme as intenções da oficina no período em questão. Como veremos mais detidamente a seguir, a cada semestre as oficinas se reiniciam e se reinventam para que um novo problema seja enfrentado e, se possível, resolvido.
Nas oficinas, o protagonismo dos estudantes na construção do conhecimento, que perseguimos a todo instante em todas as disciplinas que são trabalhadas ao longo do EM, tem papel central nas dinâmicas que são desenvolvidas a cada aula. Perseguindo a solução de problemas reais, os estudantes têm sempre uma postura ativa no processo pedagógico e, utilizando metodologias ativas, como o design thinking, por exemplo, busca-se unir o quê com o como, obtendo mais consistência na construção do conhecimento. É importante ressaltar que não defendemos um método em detrimento do conhecimento. As oficinas têm no seu horizonte a superação da dicotomia entre forma e conteúdo, entre pensamento e ação. Elas são um espaço privilegiado para que os estudantes experimentem, errem, refaçam o que não deu certo e, principalmente, arrisquem-se na aventura do conhecimento.
Na tentativa de equacionar problemas, torna-se fundamental um olhar investigativo, possibilitando que o aluno realize um percurso que valorize a diversidade de saberes e vivências culturais, recorrendo a diferentes fontes, suportes e linguagens. Esse percurso possiblita que a síntese e a comunicação das soluções construídas sejam autorais e propiciem construção de autonomia. O desenvolvimento das atividades privilegia a troca entre pares, em especial durante os trabalhos em grupo, estimulando a cooperação, o uso de tecnologias digitais para comunicação e a produção de conhecimento coletiva, acolhendo e valorizando a diversidade individual. Diante das discordâncias inevitáveis, busca-se o posicionamento ético e uma ação responsável frente aos problemas e aos diferentes atores.
Outro aspecto importante é que os Projetos procuram ganhar um sentido para além dos muros da Escola. Ou de forma imediata, construindo parcerias com outros projetos já existentes em comunidades, bairros e ONGs, ou por meio da formação dos estudantes que, no futuro, estarão atuando em espaços públicos e privados, poderão buscar soluções que dialoguem com o paradigma do “Viver Bem” como forma de construir novas relações com o planeta.
Os Projetos
As oficinas estão distribuídas em quatro áreas: Sustentabilidade: Biodesign, Agrofloresta e Alimentação. Artes: Música, Artes Plásticas e Artes Cênicas. Humanidades: Constituição e Direitos Humanos, Economia Colaborativa e Gestão de Projetos. Tecnologia: Programação, Construção de Coisas e Multimídias.
Os cursos são semestrais, com dois tempos semanais, em horário concomitante. Ao longo da 1ª e 2ª séries, é possível que o aluno frequente até quatro cursos distintos. Essa perspectiva permite o trânsito por diferentes áreas, ampliando repertório e recursos para a leitura de mundo e para o futuro exercício profissional.
Considerações finais
A reformulação que implantamos em 2019 ainda precisará de tempo para uma análise mais detalhada sobre seu impacto. No entanto, ela já nos aponta alguns acertos importantes. A ampliação de projetos nas áreas de tecnologia, sustentabilidade e humanidades permitiu maior engajamento dos estudantes nas propostas das oficinas. Sem que tenhamos uma resposta definitiva para esse fenômeno, já percebemos que conseguimos maiores possibilidades em diferentes campos do conhecimento e ampliamos a compreensão das perspectivas de transformação social.
O último aspecto apontado é extremamente importante para nosso projeto pedagógico. Temos como dois dos nossos pilares práticas morais e éticas e a responsabilidade socioambiental. Os Projetos Colaborativos vêm reforçar esse aspecto da formação que nossos alunos e alunas estão compartilhando. Pensar em gestar projetos com o foco nos seus impactos sociais, pensar uma alimentação boa e justa, construir coisas, com a finalidade de pensar o consumismo em que estamos imersos, são práticas pedagógicas que estão contribuindo para a formação de pessoas que terão a capacidade de pensar sobre um novo mundo, com um novo olhar.
Por fim, pensamos em avançar no processo avaliativo que envolve os Projetos. Alunos, alunas, professores e professoras precisam perceber a avaliação como um processo que comunica como está a aprendizagem relativamente a algum conceito que está sendo discutido. Esse processo deve ser transferido cada vez mais para os estudantes na construção de sua autonomia.
A discussão da avaliação não é uma tarefa que cabe apenas aos Projetos Colaborativos, mas entendemos que esse é um bom “laboratório” para ousarmos novas formas de avaliação.