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Construção Moral na Escola Parque

Por Patrícia Lins e Silva

Quando nos indagamos sobre como agir, quando avaliamos o que é justo e correto, quando julgamos nossas ações e as dos outros, estamos pensando em moral.

Na Escola Parque, acreditamos que a moral é construída num processo de transformação interna do sujeito, o que é diferente de apenas obedecer normas por receio de punição. A existência de regras e reparações para as transgressões é fundamental, mas sem a reflexão dos aprendizes é apenas um reflexo burocrático que não provoca modificação interior. Sem reflexão, o aluno não se responsabiliza pela ação praticada nem propõe, ele, uma ação reparadora para recompor a situação que criou. O preceito moral que vem de fora, com o objetivo de apenas conseguir obediência, sem compreensão do sujeito, não potencializa a consciência sobre as ações praticadas.

O processo de construção de conhecimento e o processo de construção moral são inseparáveis e concomitantes. O desenvolvimento da capacidade de pensar refina o pensamento moral. Nas salas de aula, espera-se que os alunos aperfeiçoem o raciocínio e a argumentação, que discutam sobre ideias e conceitos, com os pares e com o professor, e que considerem o próprio comportamento enquanto aprendizes. O objetivo é que alcancem a autonomia intelectual e moral que possibilita opiniões próprias e responsabilidade pelas próprias ações, sem perder de vista o bem-estar do grupo.

Na primeira infância, as crianças não são autônomas, porque suas estruturas cognitivas só permitem a interpretação dos acontecimentos segundo seu ponto de vista. Para elas, as regras dos adultos têm significado imutável e inquestionável, e devem ser obedecidas para evitar castigo e não porque são resultado de acordo ou necessidade. Esse fato, no entanto, não impede que, na escola, os alunos discutam, no grupo, com a mediação de um adulto que incentiva o debate, questiona soluções e chama a atenção para as falas e a escuta de todos.

O processo de construção de autonomia intelectual e moral atravessa toda a escolaridade. Leva tempo educar para conviver com diferentes modos de pensar e para incorporar a responsabilidade das próprias ideias e ações no grupo.
A construção da autonomia segue numa direção oposta ao reforço da individualidade ou do egocentrismo. Como é capaz de refletir e modificar-se, o sujeito autônomo obedece leis porque considera que são necessárias para a vida social e originam-se em acordos que possibilitam o convívio.

A Escola Parque propõe uma educação para a autonomia, uma educação que confia na inteligência humana, que acredita na capacidade de o sujeito construir princípios para levar uma vida interessante e significativa. * Patrícia Konder Lins e Silva é pedagoga e diretora da Escola Parque.

Tags: Educação