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O difícil desafio de ser adolescente

Escrito por Maria Luiza | Dec 14, 2020 6:04:49 PM

A adolescência é uma etapa da vida que se caracteriza pela instabilidade, pela transição e pelos desafios. É difícil até defini-la.

São mudanças físicas de crescimento e peso, de pele e de cabelo, visíveis a olho nu. São mudanças fisiológicas, alterações glandulares que afetam o sono e o humor. São mudanças nas estruturas cognitivas que, como uma lente 3D, permitem ver sob ângulos diferentes, entender muitos pontos de vista, pensar como o outro e pensar antecipadamente. São mudanças emocionais caracterizadas pela irritabilidade e extrema vulnerabilidade, por perceberem-se incapazes de lidar com todas essas mudanças.

O adolescente traz em si a criança que foi, o adolescente que se apresenta e o jovem que será. Por isso, em geral, oscila tanto a forma como o vemos e lidamos com ele: “Como assim? Quem você pensa que é? Você só tem … anos…”, ou “olhe só como se comportou” “você já tem … anos…” “com a sua idade já deve fazer isso”.

A verdade é que o adolescente vive um momento de embates fundamentais. Fundamentais porque são estruturantes do ser humano que ele é. E cada adolescente é um ser humano singular.
Nessa fase, ele se reconhece, precisa gostar de si para crescer e aperfeiçoar-se. E para maior confusão está cercado de outros adolescentes, vivendo essas mesmas questões.

A família sempre será o espaço de confiança, de referência básica e de suporte. Em todas as fases da vida.

Mas é na escola que o adolescente encontra espaço para o exercício dessas mudanças. A escola funciona como espaço concreto e simbólico. Nela, o adolescente encontra muitos “outros” e, com eles, dialoga, confronta, argumenta. Com eles, pode olhar a si próprio como a criança menor faz diante do espelho.

Os profissionais da escola assumem o lugar de referência, ampliando as identificações dos adolescentes (o modelo na Educação Física, na Filosofia, nas Artes, na Literatura, nas Ciências…) e ajudando-os a perceberem suas maiores habilidades, sinais de suas futuras escolhas profissionais.

É na escola que o adolescente pode falar de suas preocupações, suas tristezas e suas ansiedades, porque, em geral, elas também são, em formas e proporções diferentes, as de outros adolescentes. Os profissionais da escola, que lidam com os adolescentes, precisam estar abertos e sintonizar, empaticamente, com essas questões. Alguns fóruns, espaços psicopedagógicos, grupos de debates permitem que os adolescentes desabafem, expressem seus sentimentos e ideias, e possam ser orientados, ajudados e amparados.

O profissional que lida com o adolescente precisa funcionar como um suporte, isto é, ele também deve estar seguro de que ele não é um outro adolescente.

Nesse sentido, o posicionamento, a firmeza e os limites são muito importantes para o adolescente que está num momento de transição, tentando reconhecer-se e medir suas forças. O adulto que lida com ele deve ajudá-lo a se organizar, a estabelecer critérios e a fazer escolhas responsáveis; a dialogar com os outros e com a realidade de forma critica e numa expressão própria.

Quem lida com adolescentes tem que gostar de adolescentes. Tem que ficar fascinado com esse potencial imenso que ainda funciona inadequadamente, desordenadamente, tumultuadamente. Mas fascinado ante o desafio de, atuando, ajudá-lo a ser, cada dia que passa, melhor e mais humano, mais organizado e mais capaz de produzir conhecimentos.